O desanimador Plano Safra 2025/2026

Foto: Freepik

Com menos crédito subsidiado e mais juros de mercado, o plano expõe os limites fiscais de um país que gasta demais e investe de menos

*Por Xico Graziano

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O recente Plano Safra 2025-2026 indicou, pela 1ª vez na história, uma redução de recursos nas fontes tradicionais do crédito rural. Não foi uma decisão do governo Lula. É um sintoma da precária situação financeira do país.

O SNCR (Sistema Nacional de Crédito Rural) funciona há 60 anos, instituído pioneiramente (lei 4.829 de 1965) no 1º governo militar, chefiado pelo general Humberto Castelo Branco. Sua formulação coube aos então ministros da Agricultura, Hugo de Almeida Leme, e da Fazenda, Otávio Bulhões.

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O agrônomo Hugo de Almeida Leme era um notável professor catedrático, na área de mecanização agrícola da Esalq/USP, em Piracicaba. Embora tenha permanecido só 17 meses no governo federal, além do SNCR, deixou como legado o Estatuto da Terra e o Código Florestal. Homem inteligente, atuante, brilhante.

Otávio Bulhões, economista, chefiou o ministério da Fazenda durante todo o governo (1964-1967) de Castelo Branco. Também professor catedrático, na Faculdade de Ciências Econômicas do Rio, estudioso e culto e com formação liberal, é um dos grandes responsáveis pela modernização das finanças brasileiras.

A criação do SNCR serviu como alavanca decisiva na evolução tecnológica da agricultura brasileira. Naquela época, o êxodo rural entupia as metrópoles de gente e o abastecimento alimentar era o grande drama do país. A oferta de crédito barato aos produtores rurais permitiu enfrentar o imenso desafio da rápida urbanização.

No fulcro do SNCR está a exigibilidade, ou seja, a obrigatoriedade de as instituições financeiras aplicarem parte de seus depósitos à vista, em caderneta de poupança e outras formas, em operações de crédito rural. A exigibilidade é determinada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional).

Tais recursos obrigatórios são remunerados, aos bancos, pela taxa básica de juros (Selic). O governo, porém, utilizando recursos do Tesouro, promove um rebaixamento nas taxas de juros do crédito rural, operação chamada de equalização. O custo dessa diferença, entre a Selic e a taxa efetiva dos financiamentos agropecuários, caracteriza o subsídio público, que equivale a R$ 13,5 bilhões no Plano Safra 2025/2026.

No correr dos anos, as carteiras agrícolas do Banco do Brasil e dos bancos privados, aqueles que decidiram investir no agro, foram acumulando valores crescentes, permitindo expandir seguidamente a oferta de recursos para a modernização do campo. Por isso, todo ano cada governo sempre anuncia “o maior Plano Safra da história”.

Além dos recursos anuais obrigatórios, o “funding” do crédito rural se engrossa em função do retorno, em parcelas, daqueles empréstimos tomados anteriormente pelos produtores rurais, cooperativas e agroindústria. Desta vez, porém, no Plano Safra 2025/2026, o caldo entornou.

Em que pese o CMN ter elevado a taxa da exigibilidade bancária, caiu o volume total de recursos financeiros colocados à disposição da agricultura. Por quê?

Por 3 razões principais:

  • ocorreu redução de depósitos na poupança rural;
  • elevou-se a inadimplência no crédito rural;
  • houve prorrogação de operações creditícias (no Rio Grande do Sul, especialmente).

Resultado: o volume total do crédito, dos recursos chamados controlados, estabelecido no Plano Safra 2025/2026, é menor que no ano passado.

“Não posso ter um funding fake. O número está aí. Não posso lançar um Plano Safra com funding que não existe”, justificou corretamente Gilson Bittencourt, subsecretário de Política Agrícola e Negócios Agroambientais do Ministério da Fazenda.

Aumentaram, em compensação, os recursos financeiros livres, captados pelos bancos via CPR (Cédulas de Produto Rural) e LCA (Letras de Crédito do Agronegócio). Dos R$ 594,4 bilhões anunciados para todas as linhas da agricultura, R$ 327,1 bilhões (55%) serão emprestados com taxas plenas de mercado. Zero subsídio.

Face à escandalosa escalada da taxa Selic, subiram por decorrência os juros do crédito rural. Ou seja, o financiamento da próxima safra será mais apertado e mais caro. Um cenário preocupante.

O desanimador Plano Safra 2025/2026 é uma consequência indireta do populismo, cuja gastança pública domina a política atual. O desequilíbrio fiscal suga o investimento produtivo. No agro e fora dele; no campo, como na cidade. Otávio Bulhões e Hugo de Almeida Leme jamais imaginaram isso.

Fonte: Poder360

Artigo originalmente publicado pelo portal Poder360. O texto foi cedido pelo autor.

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