Projeto do Sebrae aposta no vinho de inverno para aquecer o turismo capixaba
Fotos: Jefferson Rócio e divulgação

Texto: Bruno Caetano
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O Espírito Santo começa a dar novos passos na vitivinicultura. Com o Projeto Vines, o Estado aposta na viticultura de inverno para diversificar o agronegócio e abrir novas oportunidades no turismo das montanhas. A iniciativa é do Sebrae/ES, que busca unir produtores, pesquisadores e empreendedores em torno da produção de vinhos finos capixabas.
O Projeto Vines, lançado oficialmente em Vitória, é a aposta do Sebrae/ES, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) e outras instituições, para posicionar o Estado no mapa dos grandes produtores de vinhos finos do Brasil. A proposta é ousada: impulsionar o cultivo de uvas de inverno, variedades como Syrah, Cabernet Franc e Sauvignon Blanc e estimular o enoturismo nas regiões de altitude.
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Ao contrário da viticultura tradicional, que realiza a colheita no verão, o sistema adotado no projeto capixaba utiliza a chamada dupla poda. Essa técnica conduz o ciclo da planta para o período mais frio do ano, quando há menos chuvas e maior amplitude térmica, condições que são ideais para a produção de vinhos de alta qualidade.

“Durante o inverno, as noites frias e os dias secos ajudam a concentrar o açúcar e manter a acidez das uvas. O resultado é uma fruta equilibrada, com grande potencial enológico”, explica Gustavo Gomes Vervloet, produtor da vinícola Cave Rara, em Venda Nova do Imigrante.
Ele conta que o trabalho é minucioso e exige acompanhamento técnico constante. “É quase como cuidar de um bebê. Cada poda, cada irrigação, tudo é feito com precisão para alcançar o ponto ideal de maturação. Mas o resultado vale cada gota de suor: um vinho que traduz o sabor das montanhas capixabas”, garante.
TURISMO – Para o superintendente do Sebrae/ES, Pedro Rigo, o Vines vai muito além da produção agrícola. Trata-se de um movimento de fortalecimento territorial, capaz de conectar o agronegócio com o turismo e a cultura local. Recentemente, foi plantado um parreiral com variedades de inverno ao lado da Casa Nostra, no Polo Sebrae de Turismo de Experiência, em Pindobas, Venda Nova do Imigrante. O local irá servir para analisar as cultivares.

“O Espírito Santo tem tradição nas colônias italianas e no cultivo da uva. Agora, estamos resgatando essa herança e transformando-a em oportunidade econômica. O vinho passa a ser uma experiência capixaba autêntica, que une história, sabor e identidade”, afirmou.
O Sebrae será responsável por oferecer assistência técnica, modelagem de negócios e apoio à formação de cantinas, além de incentivar a abertura de empreendimentos turísticos ligados à vitivinicultura.
O Incaper, por sua vez, entra com a pesquisa e o suporte agronômico. Segundo o diretor técnico da instituição, Antônio Elias da Silva, o trabalho conjunto deve garantir base científica e sustentabilidade para o projeto. “Estamos aplicando o conhecimento de anos de pesquisa para adaptar as variedades e tecnologias ao clima capixaba. O resultado será uma produção técnica, com identidade própria”, informou Antônio Elias.
EXPERIÊNCIAS – Nas propriedades das montanhas, o visitante poderá vivenciar o processo do campo à taça. Na Cave Rara, por exemplo, o turismo já é parte do negócio. Chalés, restaurante e harmonizações com vinhos locais fazem da colheita um evento de experiência. “O turista vê o parreiral, entende o processo e depois prova o vinho junto com os pratos da região. É um encanto que não se explica, só se vive”, diz Vervloet.

A ideia é que o modelo se repita em outras propriedades, criando uma rota do vinho capixaba. Esse formato já é bem-sucedido em polos como o Sul de Minas e o Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul, e agora ganha sotaque e altitude capixaba.
CAPACITAÇÕES – Instituições como o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e o Senac também integram o Vines, oferecendo capacitações voltadas para o campo e o turismo. “Estamos comprometidos em preparar os produtores para essa nova viticultura, com foco em gestão, técnicas agrícolas e hospitalidade”, destacou Letícia Toniato Simões, superintendente do Senar/ES.
O Senac, por sua vez, pretende atuar na formação de mão de obra para o atendimento turístico e a gastronomia associada aos vinhos locais. Ainda que o projeto esteja em fase inicial, os primeiros resultados são promissores.
Produtores já relatam vinhos com qualidade comparável aos de regiões tradicionais do país. A expectativa é que, nos próximos anos, o Espírito Santo consolide sua marca própria de vinhos finos, com rótulos que expressem o valor das montanhas capixabas.
“Cada safra é um aprendizado. A planta com dez anos ainda é um bebê, e a gente tem muito a evoluir. Mas o caminho está aberto”, resume Gustavo Vervloet.
Enquanto isso, entre os parreirais que se estendem pelos municípios de Venda Nova do Imigrante, Domingos Martins e Alfredo Chaves, o Espírito Santo começa a descobrir que o inverno também pode ser tempo de colheita.
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