Abelhas: boas professoras, boas alunas

Décio Luiz Gazzoni é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja, membro do Conselho Científico Agro Sustentável, da Academia Brasileira de Ciência Agronômica e do Conselho Científico da A.B.E.L.H.A.

Um estudo publicado na revista Nature (bit.ly/3VxHDFU) demonstrou que as abelhas dispõem de um nível de sofisticação cognitiva excepcional. Os autores, liderados pela profa. Alice Bridge, da Queen Mary University (Londres) observaram que as abelhas aprendem tarefas complexas, compostas por várias etapas sucessivas, através da interação social, mesmo que não consigam decifrá-las sozinhas.

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Isto desafia a crença de longa data de que tal aprendizagem social avançada é exclusiva dos humanos, e até sugere a presença de elementos-chave da cultura e de domínio de informações de forma cumulativa, pelas abelhas.

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Para realizar o experimento, a equipe de pesquisa projetou uma caixa contendo um quebra-cabeça, composto de duas etapas subsequentes. Para solucionar o desafio, é necessário que as abelhas executem duas ações distintas, em sequência, para acessar uma recompensa (um composto adocicado). No início, para facilitar o aprendizado, as abelhas receberam uma recompensa intermediária, quando cumpriam a primeira etapa. Ela foi retirada quando as abelhas aprenderam a abrir a caixa inteira, de maneira que a recompensa somente era recebida depois de cumprida a missão. Essas abelhas, treinadas pela equipe, se tornaram “professoras”.

Essa etapa já revelou fatos muito interessantes sobre o aprendizado das abelhas. Mas o melhor ainda estava por vir.

ABELHAS ALUNAS – Se as abelhas começavam do zero, sem conhecimento anterior, as tentativas resultavam infrutíferas. Mas, quando as abelhas observavam uma colega “professora”, já treinada na solução do quebra-cabeça, aprenderam toda a sequência com muita rapidez, e só receberam uma recompensa no final, ou seja, não houve necessidade de recompensa intermediária. Excelentes alunas!

O estudo demonstra que as abelhas possuem um nível de aprendizagem social que parecia exclusivo dos humanos e alguns poucos animais superiores. Eles podem partilhar e adquirir comportamentos que estão além das suas capacidades cognitivas individuais.

Além da aprendizagem individual, esta pesquisa abre possibilidades interessantes para a compreensão do surgimento da cultura cumulativa no reino animal. Estamos falando do acúmulo gradual de conhecimentos e habilidades ao longo de gerações, permitindo o desenvolvimento de comportamentos cada vez mais complexos. A capacidade das abelhas de aprender uma tarefa tão complexa a partir de um demonstrador sugere um caminho potencial para a transmissão cultural e a inovação, para além das suas capacidades de aprendizagem individuais.

Isso levanta a fascinante possibilidade de que muitas das realizações mais notáveis dos insetos sociais, como as arquiteturas de nidificação de abelhas e vespas ou os hábitos de formigas que cultivam pulgões e fungos, podem ter se espalhado inicialmente pela imitação de indivíduos inovadores, inteligentes, antes de finalmente se tornarem parte dos repertórios de comportamento específicos da espécie.

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