Um ano para celebrar o cooperativismo

Bruno Faustino é jornalista, diretor da Revista Negócio Rural e apresentador de TV.
Quando a ONU declarou 2025 como o Ano Internacional das Cooperativas, senti como se fosse um chamado para olhar de novo para tudo aquilo que venho acompanhando desde 2013. De lá para cá, contei centenas de histórias sobre esse movimento — histórias de famílias, de comunidades, de gente que decidiu não desistir. Histórias que me mostram, a cada passo, que cooperar é transformar.
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Essa semente foi plantada em 1844, em Rochdale, na Inglaterra, quando vinte e oito trabalhadores abriram um armazém coletivo para garantir comida mais justa. Talvez eles não imaginassem, mas ali nascia um modelo que hoje chega ao Espírito Santo com raízes profundas.
Atualmente, são 114 cooperativas espalhadas pelo estado, reunindo 968 mil cooperados. Mas, mais do que números, eu penso nas pessoas. Porque por trás de cada dado está uma família que ficou no campo quando pensava em sair, um jovem que conseguiu estudar porque a renda da casa se estabilizou, uma comunidade que ganhou fôlego ao apostar no trabalho coletivo.
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No agro, a transformação é ainda mais visível. Em 2024, as cooperativas, entre elas, a Selita, foram responsáveis por 61,5% da captação de leite no Espírito Santo — quase 148,5 milhões de litros. Também comercializaram 3,3 milhões de sacas de café, respondendo por 26% de todo o café negociado no estado, entre conilon e arábica. E, nas escolas, a agricultura familiar cooperada, como a Coopram, a Caf-C e a Cooperfruit, levou mais de mil toneladas de alimentos para 384 unidades de ensino, chegando ao prato de quase 100 mil alunos.
É nesse movimento que o impossível se torna possível. O agricultor que, sozinho, não teria como escoar a produção, encontra apoio em caminhões compartilhados. A produtora que antes vendia a banana na beira da estrada hoje vê seu trabalho virar alimento saudável servido na merenda escolar. O cafeicultor que vivia preso ao atravessador agora participa de reuniões de conselho e ajuda a decidir o futuro da sua comunidade.
Não é à toa que o cooperativismo já responde por 8,2% do PIB nominal capixaba e impacta 12,8% da economia do estado. São quase 2,2 milhões de pessoas envolvidas direta ou indiretamente — mais da metade da população capixaba. E tudo isso sem perder o que é mais importante: os valores que nasceram lá em Rochdale. Honestidade. Solidariedade. Democracia.
É por isso que, quando penso no Ano Internacional das Cooperativas, não vejo apenas um título bonito. Vejo um convite para celebrarmos o que já conquistamos e, sobretudo, para construirmos o que ainda está por vir. Porque cooperativa não é só empresa. É comunidade. É família ampliada. É rede de proteção social.
Eu sigo acreditando que cada história contada é só o início de muitas outras. E convido você a mergulhar junto comigo nesse movimento que une propósito e resultado. Que este 2025 seja lembrado não como um ponto final, mas como a vírgula de um texto que ainda estamos escrevendo — juntos, como sempre foi o espírito do cooperativismo.