Adubo orgânico feito com resíduo da produção de café solúvel mostra resultados satisfatórios

Fotos: Julio Huber

Coordenador de resíduos da empresa Real Café, José Azevedo de Carvalho Filho comemora os resultados obtidos com a destinação do dejeto oriundo da produção de café solúvel

Julio Huber

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Um problema que virou a solução e promete revolucionar a produção agrícola em Viana. Assim pode ser resumido um projeto que usa um resíduo da produção de café solúvel, da empresa Real Café, e transforma-o em adubo orgânico, em parceria com a Prefeitura de Viana e com o Instituto Capixaba de Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).

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Instalada na Fazenda Experimental do Incaper, em Formate, a Usina de Compostagem de Viana tem uma capacidade de produzir sete toneladas de adubo orgânico por dia. O produto foi usado em pesquisas do Instituto, que testou a eficácia nos plantios de milho e feijão. Os resultados na cultura do feijão surpreenderam.

Segundo o coordenador de resíduos da empresa Real Café, José Azevedo de Carvalho Filho, a ideia surgiu como alternativa para a destinação do lodo do café e demais resíduos. “Para se fazer o café solúvel, utilizamos 50 mil litros de água por hora. Retiramos a água do Rio Formate e a purificamos em uma estação de tratamento da empresa. Após o processamento, esse ‘lodo’ vai para uma estação de tratamento de efluentes. Antes, pagávamos para uma empresa especializada dar o destino final a esse produto”, contou José Azevedo.

Uma equipamento mistura o lodo com a palha de café e galhos

Diariamente, a Real Café torra mil sacas de café para transformá-lo nos mais variados produtos. Além disso, toda a água usada na empresa também vai para essa estação de tratamento de efluentes. Após o tratamento dessa água e a devolução dela para o rio, sobra uma espécie de lodo, que é a base para a produção no composto orgânico.

“Essa água é lançada no rio com melhor qualidade do que quando a captamos. E, agora, também vamos reaproveitar da melhor forma esse lodo. Além disso, também estamos reaproveitando as cinzas das caldeiras de torragem de café e outros produtos para a produção do pré-composto. Enviávamos cerca de 400 toneladas para um local apropriado para ser enterrado. Atualmente, após o reaproveitamento na usina, enviamos 35 toneladas”, relatou José Azevedo.

O supervisor da Fazenda Experimental do Incaper, Afonso Carlos Valentim, contou que a Prefeitura e o Incaper toparam de imediato a ideia da instalação da usina. “Uma das exigências da Real Café foi que a instalação da usina fosse em uma área do governo estadual, não em uma área da Prefeitura, para evitar possível paralisação do projeto quando houver a troca da gestão municipal”, explicou.

O custo da instalação da usina ficou em torno de R$ 500 mil, entre a estrutura do galpão e a compra dos equipamentos, como uma máquina de triturar galhos e um misturador do produto. “O trabalho da usina é muito útil para o município e para o Estado”, disse.

PRODUÇÃO – Para produzir o pré-composto orgânico, é misturado pó de serra e restos de galhos de árvores que são cortados pela EDP. Esse material serve para dar volume e retirar a umidade do lodo do café. Afonso Carlos Valentim explica como é feito o processo de produção do pré-composto.

“A palha de café serve para dar o suporte de pré-secagem. Ela será o enchimento desse produto para que haja a redução de 70% de umidade para 30%. A cinza é outro subproduto muito importante e é usado para correção de solo. Ao invés do calcário, vamos usar a cinza retirada das caldeiras de torragem de café, que tem um efeito mais eficiente de correção, pois possui um teor bem superior de calcário, cálcio e magnésio”, informou Afonso.

O pesquisador do Incaper, Luiz Fernando Favarato, explicou que o produto final é um pré-composto, já que não é feito o processo mais longo, de cerca de 30 dias, para que fosse considerado um composto orgânico. No total, são cinco dias para que o produto esteja pronto para que o produtor possa utilizá-lo nas lavouras.

Um veículo cedido pela Prefeitura de Viana busca os dejetos na fábrica da empresa Real Café e transporta-os até a usina de compostagem. Chegando ao galpão, o produto é misturado e uma máquina realiza a mistura dos produtos. A máquina arrasta o pré-composto até o final do galpão, aonde ele já chega pronto para ser transportado para as lavouras.

Agricultores já estão utilizando o pré-composto em lavouras

A lama proveniente da Real Café é misturada a pó de serra e galhos triturados

Inicialmente, segunda a Prefeitura, o pré-composto começou a ser distribuído a agricultores de um assentamento localizado no município. Atualmente já são 70 agricultores de Viana e pelo menos mais 30 de municípios vizinhos que utilizam o produto nas lavouras.

Atualmente são produzidas 70 toneladas de pré-composto por mês. O produtor de Viana e de municípios vizinhos pode procurar a Secretaria Municipal de Agricultura para adquirir o material, que custa R$ 52,00 cada 5 metros cúbicos, cerca de R$ 50,00 por cada caminhão. O telefone de contato é: (27) 3255-2716 e 3255-2932.

Pré-composto em plantios de feijão eleva a produtividade acima da média nacional

O pesquisador Luiz Fernando Favarato contou que o pré-composto teve melhor desempenho no plantio de feijão do que no de milho

Apesar de o produto já ter sido testado e analisado antes do início da produção em grande escala e da distribuição aos produtores, técnicos do Incaper fizeram pesquisas em culturas de feijão e milho na Fazenda Experimental de Viana. O pesquisador do Incaper Luiz Fernando Favarato explicou como foram conduzidas as pesquisas de campo. Os resultados na cultura de feijão surpreenderam.

Ele informou que foram cinco experimentos com o produto. “Em lavouras de feijão e milho, usamos cinco formas de aplicação. Em uma área, usamos apenas o pré-composto, em outra, apenas o adubo mineral. Em outras duas áreas, usamos 75% do pré-composto e 25% do mineral, e vice-versa. Também usamos metade de cada produto em uma quinta área experimental”, detalhou o pesquisador.

Ele contou como foram os resultados após a colheita na lavoura de feijão. “Conseguimos uma maior produção no experimento em que usamos 25% de adubação química e 75% do pré-composto. Nesse talhão conseguimos uma produtividade 21% maior que do plantio em que usamos 100% de composto. Se comparado com o plantio que usamos apenas adubação mineral, obtivemos uma produtividade de 9% a mais”, contou Luiz Fernando.

O pesquisador contou que outro detalhe observado foi o número de grãos por vagem. “No experimento que obtivemos uma melhor colheita, também constatamos uma média de 5,92 grãos por vagem. Os demais deram em torno de 5,2 e 5,8 grãos por vagem”, explicou.

Com essa colheita, a produtividade ficou acima de 900 quilos por hectare, superior que a média nacional, que está em torno de 860 quilos por hectare. “No tratamento que tivemos o melhor desempenho colhemos 1.124 quilos por hectare”, contou. 

MILHO – Já na cultura de milho, os desempenhos foram diferentes dos obtidos com o feijão. “Por ser uma planta de crescimento mais rápido, notamos que as parcelas com maior percentual de adubação mineral tiveram melhores resultados. O melhor tratamento foi o que usamos 75% de adubação mineral e 25% de adubação orgânica”, destacou.

O pesquisador afirmou, entretanto, que com o passar do tempo, a aplicação constante da adubação orgânica melhora a qualidade do solo, o que pode contribuir com os próximos plantios. “O ideal é observar essas diferenças de produtividade a partir do terceiro ano. Não é apenas adubar a planta para o desenvolvimento, mas preparar o solo para o futuro. Mesmo que no primeiro teste no milho não foi tão satisfatório, sugerimos a aplicação do composto com esse objetivo”, reforçou. 

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