Empreendedoras capixabas mostram a força do agronegócio feminino
Fotos: Sebrae/Divulgação

Texto: Bruno Caetano
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O Espírito Santo tem 206 mil mulheres empreendedoras, segundo dados do PNAD/IBGE, e quase 90% delas atuam sem funcionários, por conta própria. No campo, o cenário é ainda mais desafiador: as mulheres enfrentam barreiras culturais, dificuldade de acesso a crédito e pouca valorização.
Mas é justamente nesse ambiente que surgem iniciativas capazes de movimentar mercados, diversificar culturas e inspirar comunidades inteiras. É o caso das produtoras Mary Hellen Gobetti, de Sooretama, Elaine Alves Vargas de Sousa, de Guaçuí, e Amélia das Graças Benevides Dias, de São Roque do Canaã.
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Elas foram as três primeiras colocadas na categoria Produtora Rural do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios 2025 e representam modelos diferentes de como transformar propriedades rurais em empresas lucrativas.
Nos últimos cinco anos, mais de 16 milhões de mulheres empreendedoras no Brasil receberam algum atendimento do Sebrae. No Espírito Santo, a representatividade já é significativa: as mulheres correspondem a 41% dos empreendedores.
A gestora do Sebrae Delas no Espírito Santo, Suzana Fernandes, destacou que o prêmio é um marco na valorização da liderança feminina. “As histórias dessas empreendedoras representam coragem, inovação e dedicação. Ao reconhecê-las, o Sebrae reafirma seu compromisso em apoiar mulheres que transformam suas comunidades por meio dos seus negócios”, afirma.
Servidora pública vira empreendedora no sítio da família
Em Sooretama, Mary Hellen Gobetti decidiu transformar a propriedade de café conilon da família em um negócio de valor agregado. Depois de 20 anos como servidora pública, viu no sítio a oportunidade de empreender. Começou com doces de corte de gengibre e cacau, depois ampliou para geleias. Hoje, sua marca Sabores do Sítio Gobetti é referência em feiras e comércio regional.
Mary relata que um dos maiores obstáculos foi vencer a desconfiança. “Precisei provar dentro da própria família que era possível transformar receita de doce em negócio. Hoje mostro que dá resultado e ainda fortalece a identidade gastronômica local”, disse.

Agora ela sabe que o próximo passo é profissionalizar a gestão. “Hoje sou eu que faço de tudo, da cozinha à entrega. Quero estruturar a produção, trazer mais gente e abrir espaço para o turismo rural”, projeta.
Segundo o Censo Agro 2022/IBGE, apenas 19% dos estabelecimentos agropecuários no Brasil têm mulheres como responsáveis. No Espírito Santo, esse percentual é de 22%, mas a maioria ainda está concentrada em propriedades de subsistência. Casos como o de Mary, de mulheres que transformam a produção em marca, mostram um caminho estratégico: sair da base primária e gerar valor dentro do próprio sítio.
Café dá lugar a flores e estimula o plantio em região
No interior de Guaçuí, Elaine Alves Vargas de Sousa transformou o quintal em laboratório de inovação. Em meio à crise do café, decidiu arrancar parte da lavoura e apostar em antúrios. A decisão, considerada ousada pela comunidade, logo mostrou potencial: os primeiros arranjos ganharam espaço em igrejas e eventos sociais, e abriram caminho para a criação de uma área de flores tropicais que hoje equivale a três campos de futebol.

“Ouvi de muita gente que flor não dava dinheiro, que era coisa de mulher. Só que descobri justamente aí uma oportunidade”, conta Elaine. Durante a pandemia, enquanto muitos produtores enfrentavam queda brusca nas vendas, os arranjos florais se mantiveram como itens de consumo. “Flor é luxo, e quem compra luxo não sente tanto a crise. Foi o que me segurou”, relata.
A aposta em arranjos por assinatura e a conquista de clientes corporativos ampliaram não apenas o negócio de Elaine, mas também a rede ao seu redor. Atualmente, 15 produtores locais começaram a cultivar flores inspiradas na sua trajetória.
Agroindústria amplia mercados e gera renda
Em Piúma, Amélia das Graças Benevides Dias seguiu outro caminho: a formalização. Dona de receitas de família com jaca cristalizada, bolos e biscoitos sem conservantes, ela percebeu que só poderia crescer se legalizasse a produção. Enfrentou meses de exigências burocráticas e se tornou pioneira: abriu a primeira agroindústria regularizada do município, a Amel Produtos Caseiros.
“Foi um processo desgastante, mas necessário. A regularização me permitiu acessar novos mercados e ter segurança para expandir”, conta Amélia. Hoje, seus produtos circulam em feiras, pequenos comércios e até em pontos turísticos da região. A clientela valoriza não só o sabor, mas também a autenticidade: receitas sem conservantes que preservam a tradição.

O impacto vai além da renda própria. Com a visibilidade do prêmio, Amélia planeja abrir espaço para o agroturismo e inspirar outras mulheres a seguir o mesmo caminho. A formalização, no entanto, ainda é exceção no Brasil: de acordo com o Sebrae, apenas 11% das agroindústrias familiares estão legalizadas, e muitas delas têm liderança feminina. Isso significa que exemplos como o de Amélia são fundamentais para mostrar que a regularização abre portas para crédito, certificação e competitividade.
O estado teve 211 inscritas e 13 finalistas para o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios, premiação que reuniu empresárias, autoridades, amigos e familiares das finalistas, entre outras pessoas convidadas.
As mulheres foram premiadas nas categorias Microempreendedora Individual, Pequenos Negócios, Produtora Rural, Ciência e Tecnologia e Destaque Turismo. As três primeiras colocadas de cada categoria foram presenteadas com a oportunidade de fazer, gratuitamente, o Empretec, principal programa de formação de empreendedores do mundo, desenvolvido pela Organização das Nações Unidas (ONU). As primeiras colocadas seguem para a etapa nacional e concorrem a prêmios em dinheiro que podem chegar a R$ 30 mil.
Categoria Ciência e Tecnologia
- Primeiro lugar: Carolina Fernandes – Lauduz (Vila Velha)
Categoria Produtora Rural
- Primeiro lugar: Mary Hellen Gobetti – Sabores do Sítio Gobetti (Sooretama)
- Segundo lugar: Elaine Alves Vargas de Souza – (Guaçuí)
- Terceiro lugar: Amélia das Graças Benevides Dias – Amel Produtos Caseiros (Piúma)
Categoria Microempreendedora Individual (MEI)
- Primeiro lugar: Elis Matos Julião – CO.RE Brasil (Vitória)
- Segundo lugar: Julia Cardoso Barbosa – Kida’s Art (Serra)
- Terceiro lugar: Ana Carolina Luz da Silva – Luz Comunica (Vitória)
Categoria Pequenos Negócios
- Primeiro lugar: Sabrina Maia – Chalés Vila Caravaggio (Santa Teresa)
- Segundo Lugar: Ana Paula Zortea – Jardim Bar e Petiscaria (Cariacica)
- Terceiro lugar: Luiza Guimarães de Oliveira – Balm Swimwear Brasil (Vitória)
Destaque Turismo
- Sabrina Maia – Chalés Vila Caravaggio (Santa Teresa)
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