Ipês raros são encontrados com ajuda de papagaio ameaçado

Foto: Ricardo Ribeiro

O monitoramento do papagaio-chauá (Amazona rhodocorytha), ave ameaçada de extinção e símbolo da Mata Atlântica, levou à descoberta de novas populações do ipê-amarelo (Handroanthus riodocensis), espécie rara e ameaçada de extinção. O achado, feito em Linhares, Norte do Espírito Santo, amplia o conhecimento sobre a distribuição da espécie ipê-amarelo e reforça a importância de conservar os remanescentes florestais da bacia do Rio Doce, região sob influência dos impactos do rompimento da barragem de rejeitos de mineração em 2015.

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O estudo, publicado nesta segunda-feira (10), na revista internacional Oryx – The International Journal of Conservation, reporta que o comportamento alimentar do chauá foi decisivo para localizar os ipês: durante o acompanhamento de 34 indivíduos da ave, os pesquisadores observaram papagaios alimentando-se e pousando em árvores floridas de Handroanthus riodocensis. O trabalho é resultado de uma parceria entre o biólogo Ricardo da Silva Ribeiro, especialista na família dos ipês (Bignoniáceas), a ornitóloga Victória Faria e a ornitóloga Flávia G. Chaves, pesquisadora do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA).

Foram mapeados oito indivíduos do ipê, todos em floração, sendo cinco em fragmentos de floresta e três em áreas de pastagens e plantios de cacau. As árvores, de até 35 metros de altura, destacavam-se na paisagem com suas flores amarelas abundantes. Para as aves, os ipês são conhecidos por suas fontes de néctar, principalmente para beija-flores, e as pétalas são alimentos para psitacídeos (papagaios, periquitos e araras) como o chauá.

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“Essa descoberta mostra como as espécies estão interligadas. Proteger o chauá também significa proteger o ipê e todo o ecossistema ao redor”, explica Ricardo Ribeiro. O ipê Handroanthus riodoscensis foi descrito e publicado apenas em 1992 na região norte de Linhares, e foi listado como “Em Perigo” para o Brasil e “Criticamente em Perigo” para o Espírito Santo. As principais ameaças aos ipês são o uso madeireiro e o desmatamento. Já o chauá é considerado “Vulnerável” em nível global e está na lista vermelha capixaba, e enfrenta ameaças como a fragmentação florestal, perda de habitats e o tráfico de filhotes.

“Nós estamos realizando iniciativas para localizar novas populações de Handroanthus riodoscensis na região há alguns anos. Sem as flores é difícil distingui-lo de outros ipês comuns e em outras expedições não tivemos sucesso. Somente agora, integrando o trabalho com outros especialistas, é que conseguimos localizar essas populações ao sul do município. Esses dados serão importantes para os planos territoriais de conservação a nível regional”, finaliza o especialista.

Segundo os autores, o estudo reforça a importância de monitorar conjuntamente espécies animais e plantas ameaçadas para compreender suas relações ecológicas e definir estratégias mais integradas de conservação.

“O chauá ajudou a revelar novas populações de uma árvore rara — e o ipê-amarelo, por sua vez, é essencial para a sobrevivência das aves no início da primavera, período de reprodução”, explica Flávia Chaves. A descoberta reforça a importância de monitorar espécies ameaçadas de forma integrada. “Ao acompanhar o chauá, acabamos encontrando novas populações de uma árvore igualmente rara e ameaçada”, destaca a pesquisadora do INMA.

Além de contribuir para o conhecimento científico, a descoberta reacende o alerta sobre a recuperação ambiental do Rio Doce, cujos impactos de contaminação de solo, água e mata ciliar ainda persistem uma década após o rompimento da barragem em Mariana (MG).

Fonte: INMA

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