Produto que causou explosão no Líbano é fundamental para a agricultura brasileira

O nitrato de amônia é utilizado na produção de diverso fertilizantes importantes para a agricultura

Apontado como responsável pela explosão que destruiu o porto de Beirute, no Líbano, na última terça-feira (4), o nitrato de amônia é um componente fundamental para o cultivo agrícola no Brasil, já que é utilizado na composição de diversos fertilizantes há mais de 50 anos.

De acordo com o primeiro-ministro do Líbano, Hasan Diab, as explosões, que deixaram pelo menos 100 mortos e 4.000 feridos, foram causadas pela detonação de 2.750 toneladas de nitrato de amônia que estavam armazenadas no porto da capital libanesa.

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O nitrato de amônia é um sal branco e inodoro usado como base para muitos fertilizantes nitrogenados em forma de grânulos, altamente solúveis em água e que os agricultores compram sacos de até 50 quilos, normalmente. Não são produtos combustíveis, mas sim oxidantes.

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O Brasil é um dos líderes na produção mundial de alimentos, e a demanda dos agricultores é muito maior do que o país consegue produzir de nitrato (cerca de 500 mil toneladas por ano) e outros adubos químicos. Com isso, a maior parte dos fertilizantes precisa ser importada.

Segundo levantamento feito a pedido do site G1 pela consultoria especializada em agronegócio StoneX, o Brasil importou cerca de 1,2 milhão de toneladas de nitrato de amônio em 2019, cerca de 3% do que o país utiliza de fertilizantes. Nos 10 últimos anos, o volume variou acima do 1 milhão de toneladas, e o principal fornecedor tem sido a Rússia.

A explosão no porto de Beirute, no Líbano, deixou pelo menos 100 mortes e milhares de feridos

Foi o cientista Fritz Haber que conseguiu, no início do século XX, sintetizar a amônia. Apesar de não ser esse o propósito de Haber, sua descoberta permitiu aumentar a produtividade agrícola, já que a amônia é a matéria-prima de todos os fertilizantes nitrogenados.

“A síntese da amônia e a síntese da ureia são responsáveis por 40% da alimentação humana mundial”, diz o engenheiro agrônomo José Carlos Polidoro, pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Solos e especialista em Adubação e Tecnologia de Fertilizantes. A síntese da amônia permitiu que todo o nitrogênio fornecido para as plantas fosse veiculado através de fertilizantes.

O nitrogênio é um elemento essencial para toda planta. Tirando o carbono, o hidrogênio e o oxigênio, que vêm do ar e da água, ele é o nutriente de maior concentração na planta. Como as plantas não conseguem pegar nitrogênio do ar, ela tem que receber nitrogênio de alguma fonte, e a principal fonte é o fertilizante.

Segundo o professor de química da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), Marcos Kamogawa, o nitrato de amônio é uma substância segura e indispensável para agricultura, sendo fonte de cerca de 12% do nitrogênio usado na agricultura em 2018. “Esse material diluído, com porcentagens na ordem de 20% de nitrogênio, possui chance de explodir próxima de zero. Precisa de temperaturas muito elevadas, que foi o caso no Líbano, e quando há presença de matéria orgânica, como carbono, ele aumenta ainda mais o processo de explosão”, ressalta o professor da Esalq.

No Brasil, a compra e venda de nitrato de amônio e o seu armazenamento é regulado pelas forças armadas, com normas atualizadas em abril deste ano. As novas regras editadas pelo Ministério da Defesa retiraram a isenção de registro de Organização Agrícola junto ao comando do Exército.

Com isso, desde abril deste ano, as empresas agrícolas que precisam importar o nitrato de amônio em grau técnico, usado tanto na produção de fertilizantes quanto de explosivos, só poderão fazê-lo “na forma embalada a fim de possibilitar a rastreabilidade do produto; minimizar os riscos de contaminação, de degradação por ciclagem térmica ou de absorção de umidade, fatores que podem aumentar a sensibilidade do produto”.

De acordo com relatório divulgado pela Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo), em 2019 as alterações levaram a uma queda de 20% nas importações brasileiras de nitrato de amônio em 2018, para 1 milhão de toneladas, ante um crescimento de 22% nas aquisições de Sulfato de Amônio.

A Associação Nacional para Difusão do Adubo (ANDA) ressaltou, em uma nota de esclarecimento para a imprensa, a segurança do uso do nitrato de amônia no Brasil. “Todos os fertilizantes à base de nitrato de amônio são, em condições normais, substâncias estáveis que por si próprias não apresentam risco e não são inflamáveis”.

“O composto é um produto químico de fundamental importância para o desenvolvimento da qualidade de vida das pessoas, com a aplicação na agricultura como fertilizante, matéria-prima para fabricação de gases anestésicos, tratamento de esgotos e produção de explosivos civis”, destacou a nota da ANDA.

Com informações: G1

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