Agricultores fazem delivery e até drive-thru de alimentos orgânicos no Espírito Santo

A família Tesch faz entregas em forma de delivery, drive-thru e em pontos pré-definidos com os clientes da Grande Vitória

Julio Huber

Como já dizia o grande físico e pensador Albert Einstein: “no meio da dificuldade encontra-se a oportunidade”. Einstein nasceu na Alemanha, país de origem da família Tesch, que se destaca na produção de alimentos orgânicos em Santa Maria de Jetibá, na Região Serrana do Espírito Santo.

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E colocando em prática o que disse Albert Einstein, foi durante a dificuldade de realizar as vendas das mercadorias agrícolas, em meio à pandemia do coronavírus (Covid-19), que a família vislumbrou uma oportunidade: realizar delivery e drive-thru de alimentos orgânicos.

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Com os moradores permanecendo em suas casas, o movimento nas feiras caiu nas últimas semanas. Além disso, com um decreto do governador Renato Casagrande, os comércios em todo o Espírito Santo estão proibidos de funcionarem até o próximo dia 12, inclusive os shoppings centers capixabas, onde funcionavam algumas feiras agroecológicas.

Ao todo, 24 feiras desse modelo funcionam em shoppings, praças e ruas da região metropolitana da Grande Vitória. Além disso, os agricultores e clientes com mais de 60 anos e que possuem doenças crônicas foram proibidos de frequentarem feiras. Diante de todo esse cenário, surgiu a ideia de entregar em casa os pedidos dos clientes.

“Quando começamos a perceber o aumento dos casos de coronavírus no mundo e tivemos a informação que os shoppings seriam fechados, pedi para meus filhos e para outros agricultores fazerem um mine cadastro e pegar os contatos dos clientes”, contou a agricultora Selene Tesch, de Santa Maria de Jetibá.

Selene produz alimentos orgânicos com a família em Santa Maria de Jetibá

E deu tão certo, que a família Tesch precisou pegar produtos de outros agricultores para dar conta da demanda. “O trabalho aumentou muito, porque precisamos pegar a encomenda do cliente, separar tudo em caixas ainda na propriedade, e levar para a Grande Vitória”, conta. Apenas neste sábado (04), a família Tesch iria entregar quase 300 encomendas.

“É totalmente novo esse trabalho, e muito trabalhoso. Nesse sábado é nossa 3ª entrega e já ficou mais prático. Mas, na primeira vez foi muito difícil”, relata. Mesmo com essa alternativa de entregar os alimentos nas residências, o consumo de produtos diminuiu. Alguns itens menos solicitados pelos consumidores podem estragar na roça.

“A saúde entra pela boca e começa no campo, isso precisa ser conhecido. A saúde vai do campo para a cidade”

Selene Tesch – Produtora rural

“Não conseguimos colher tudo que está no ponto, pois só colhemos o que é encomendado. Se as feiras livres estivessem com funcionamento normal e tivesse clientela, levaríamos tudo que poderia colher naquela semana”, conta.

Além de Selene e o marido, na propriedade também trabalham os três filhos, a filha e noras. “Cada um tem sua plantação, mas todos se ajudam. Está dando muito certo”, afirmou a agricultora. E ela reforça a importância de manter a produção e a comercialização agrícola. “A saúde entra pela boca e começa no campo, isso precisa ser conhecido. A saúde vai do campo para a cidade”, enfatiza.

Drive-thru de orgânicos na Grande Vitória

O drive-thru é realizado em pontos definidos com os clientes

Filho de Selene, Thiago Tesch contou como funciona o sistema drive-thru de orgânicos criado por eles, outra inovação para contribuir com a redução do número de contágios pelo coronavírus no Espírito Santo.

“Em razão da situação atual, precisamos realizar algumas adequações nas entregas. As embalagens não serão mais retornáveis. Estamos fazendo entregas em sacolas de papel ou em caixas de papelão descartáveis. Cobraremos um adicional pela embalagem, mas não aumentaremos os valores dos produtos”, explicou Thiago Tesch.

No sistema drive-thru, o cliente pede por telefone ou aplicativo de mensagem, a família separa tudo em casa, o cliente vai até o local e não precisa nem sair do carro. “Eu coloco no porta-malas e acertamos via transferência bancária ou aplicativo de pagamento, tudo isso tomando todas as medidas de higienização possíveis. Após cada entrega, é feita a esterilização das mãos com o álcool em gel antes de passar para a entrega do próximo cliente”, afirmou.

Delivery deve mudar a história das feiras orgânicas

“Não vai ser tão cedo que as feiras voltarão como antes. A história das feiras orgânicas será outra. Cada vez mais pessoas estão solicitando entregas em suas casas, por ser mais cômodo”. Esse depoimento é do agricultor de produtos orgânicos Vanildo Waiandt, de Santa Maria de Jetibá.

Neste sábado (04), ele participou da feira que acontece semanalmente em Barro Vermelho, em Vitória, mas relata que o movimento foi muito abaixo do normal. “A maioria dos produtores que eu tenho contado está fazendo as entregas nas casas dos clientes. Essa demanda tem crescido muito”, contou.

“Cada vez mais pessoas estão solicitando entregas em suas casas, por ser mais cômodo”.

Vanildo Waiandt

Os pedidos dos clientes são feitos durante a semana. No dia da colheita, os produtos são lavados, higienizados e separados. “Como nossa produção tem certificação de produto orgânico, temos as áreas próprias para a limpeza dos alimentos. No depósito, separamos os itens e montamos as cestas dos pedidos”, explicou.

As frutas, que não são colhidas na propriedade, são compradas e acrescentadas na cesta, como maças, abacaxi e outras. “Tentamos nos organizar da melhor forma possível. Acredito que a feira vai cair muito, e as entregas terão crescimento”, acredita o agricultor.

Em Linhares, os feirantes do município também passaram a entregar os produtos vendidos nas tradicionais feiras livres, na casa dos seus clientes, de graça. O serviço está sendo realizado toda sexta-feira e sábado e os pedidos devem ser realizados por telefone. São três cestas, duas pré-determinadas pelos feirantes com produtos e preços fixos e a personalizada, que cada cliente monta a sua, e paga pelo peso.

Jeruza começou a fazer entregas para os clientes

Outra produtora que aderiu às encomendas é Jeruza Schmidt Reink, de Santa Maria de Jetibá. Ela e a família fazem as feiras em Barro Vermelho, aos sábados, e na Praça do Papa, às quintas-feiras. Ambas são em Vitória. “Na primeira semana foram 40 cestas. Na última quinta-feira tínhamos 70 encomendas. Essa semana devemos ter mais pedidos”, acredita ela.

Jeruza reforça o que disse Vanildo: o movimento na feira caiu. “O movimento foi fraco, pois os clientes provavelmente se abasteceram durante a semana, com entregas de outros agricultores. E como foi a primeira feira após as semanas paralisadas, nossos clientes também não sabiam que estaríamos de volta”, comenta. Todos os produtos que Jeruza produz na propriedade são orgânicos, e certificados.

Ações públicas em prol dos agricultores capixabas

Para fornecer um apoio ao setor agrícola do Espírito Santo, várias ações estão sendo realizadas para que os agricultores não tenham prejuízos, ou para que os prejuízos sejam minimizados.

O Sistema Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Federação da Agricultura e Pecuária do Espírito Santo (Faes), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Estado (Senar-ES) e os Sindicatos Rurais estão constantemente criando ferramentas para minimizar os impactos do coronavírus na agropecuária.

Letícia Toniato Simões destacou a importância de apoiar os agricultores

De acordo com a superintendente do Senar, Letícia Toniato Simões, uma das ações foi a disponibilização dos contatos de todos os produtores que fazem entrega à domicílio, por meio do site da instituição: www.senar-es.org.br.

“Também estamos planejando videoaulas para levar conhecimento ao campo neste momento em que nossos treinamentos estão adiados, elaboramos cartilha, em parceria com o governo do Estado, com orientações para evitar a proliferação do coronavírus durante a colheita do café e temos um número de WhatsApp para tirar dúvidas de saúde e sobre a produção agrícola relacionadas ao vírus”, disse Letícia. O número do WhatsApp é: (61) 93300-7278.

De acordo com o presidente da Faes, Julio da Silva Rocha Júnior, esse é o momento que a sociedade mais precisa do produtor rural, que continua trabalhando no campo para produzir todo o alimento que chega às mesas de cada família. “Ele também está enfrentando esse momento delicado e ações emergenciais estão sendo feitas para auxiliá-lo”, comenta.

Julio enfatizou que o Sistema está ao lado das famílias rurais. “Mesmo que estejamos distantes fisicamente, estamos preocupados com todos os produtores e chamamos a atenção da sociedade em geral para valorizá-lo. É ele quem sustenta a balança comercial, a economia dos municípios capixabas e, sem ele, a população ficaria à deriva”, alertou o presidente da Faes.

Feiras em ruas são retomadas, mas nos shoppings continuam proibidas

Em meados de março, as feiras livres de Cariacica e de Vitória haviam sido suspensas pelas prefeituras, com o objetivo de reduzir o contágio do coronavírus. O município de Cariacica foi o primeiro a voltar a permitir a realização das feiras, mas até a última quinta-feira (02), todas as feiras ainda estavam proibidas em Vitória.

Com os agricultores apreensivos, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santa Maria de Jetibá, Egnaldo Andreatta, enviou um ofício ao prefeito da capital capixaba, Luciano Rezende, solicitando a retomada das feiras no município.

No documento, Andreatta evidenciou as vantagens da venda direta ao ar livre, a qualidade e o preço dos alimentos, necessários para manutenção da saúde em tempos de pandemia viral, além de reforçar a importância da manutenção das feiras para manter a renda de centenas de agricultores. O deputado estadual Adilson Espindula também enviou um ofício ao prefeito solicitando a retomada das feiras.

As feiras agroecológicas realizadas e shoppings estão suspensas temporariamente

Na última quinta-feira, foi publicado um decreto do prefeito Luciano Rezende autorizando a volta das feiras, e estabelecimento regras. Entre as medidas, o decreto estabelece o afastamento entre as barras, obrigatoriedade do uso de máscaras por todos os frequentadores, venda de lanches apenas para viagem e proibição de pessoas com mais de 60 anos vendendo ou comprando alimentos ou transitando pelo espaço da feira.

Egnaldo Andreatta comemorou a decisão. “Agora, todas as feiras livres de Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica estão funcionando. Mas com novas regras que todos devemos cumprir, tanto os feirantes, como os consumidores. Vamos nos proteger seguindo todas as normas de segurança neste momento difícil que estamos passando”, reforçou. De acordo com Egnaldo, nos quatro municípios são realizadas 110 feiras livres. 

“Não há necessidade de fechar as feiras livres”

Paulo Foleto – Secretário de Estado de Agricultura

O secretário de Estado da Agricultura (Seag), Paulo Foletto, defende ainda que as famílias não levem crianças nem idosos para as feiras e, para os feirantes, que cubram o rosto ao tossir e utilizem luvas para manipulação dos alimentos. Em vídeo divulgado no último dia 19, Foleto afirmou que “não há necessidade de fechar as feiras livres”, destacando a vantagem sobre ambientes fechados.

Visando fornecer informações de segurança para feirantes e frequentadores, a Seag criou uma cartilha com orientações importantes para evitar a proliferação do novo coronavírus em feiras livres do Espírito Santo. O documento pode ser baixando clicando aqui!

Comissão de Agricultura da Assembleia pede reabertura de feiras agroecológicas 

Sensível ao fechamento das feiras agroecológicas nos shoppings, a deputada estadual Janete de Sá, presidente da Comissão de Agricultura da Assembleia Legislativa, solicitou à Secretaria de Estado da Agricultura que as feiras sejam autorizadas também nos shoppings, que estão fechados, por determinação do governador Renato Casagrande, até o próximo dia 12.

“Nosso interesse é construir regras técnicas, junto com governo, atendendo as recomendações da Secretária de Estado de Saúde, como foi no caso da decisão de liberar as feiras livres. Assim, os agricultores orgânicos também terão condição de trabalhar e sustentar suas famílias. Precisamos de uma solução urgente, pois esses produtores e seus familiares não possuem outra fonte de renda”, disse a deputada.

“O Carrefour, do Shopping Boulevard, está funcionando, o que justifica o retorno da feira que acontece lá. A feira do Shopping Vitória é no estacionamento externo, o que também não impede o retorno, pois comercializam gêneros alimentícios”, destaca Janete de Sá.

Listas online aproximam agricultores de consumidores

Com a restrição das vendas devido à pandemia do coronavírus, a Comissão Estadual da Produção Orgânica do Espírito Santo (CPORG/ES) criou um documento contendo o contato de 23 agricultores/associações do setor.

Dessa forma, os consumidores podem encomendar cestas de alimentos diretamente com os produtores ou com os empreendimentos agrícolas, e escolher retirar em locais pré-definidos ou receber em casa. Cada fornecedor da lista trabalha de uma maneira.

A cartilha foi desenvolvida em conjunto com o Instituto Capixaba de Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) e a Seag. Clique aqui e conheça a lista dos produtores!

SEBRAE – O Serviço de Apoio as Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) também criou um ambiente virtual para reaproximar o feirante e o freguês. Na plataforma Feira na internet (feiranainternet.com) é possível selecionar feirantes por região e comprar diretamente desses profissionais sem qualquer intermediário.

O portal tem o intuito de aproximar o produtor do consumidor

A proposta é colaborar para que o feirante mantenha seu negócio funcionando de maneira remota e segura para a saúde de todos. De forma fácil e intuitiva, o cliente vai encontrar os feirantes que fazem entrega em seu bairro. Na busca, é possível selecionar feirantes por cidade, bairro, tipo (convencional ou orgânico), em categorias como açougue, aves, frutas, laticínios, peixes, temperos, verduras e legumes, entre outros. Tudo simples, direto e de graça.

“A ideia é que os feirantes de rua possam vender por essa plataforma. É muito simples, quando o cliente clica para fazer um pedido, ele conversa via WhatsApp diretamente com o feirante para combinar entrega, forma de pagamento e tudo mais”, explica o analista do Sebrae/ES, Samuel Graciolli. Na aba “Seja um feirante” do site, os profissionais podem cadastrar seus produtos e serviços para figurar na plataforma.

A feirante Alessandra Pereira da Silva vende produtos suínos com o marido Anderson, em Vila Velha. O casal vê a plataforma como uma possibilidade de dar visibilidade aos seus produtos. “Muitas pessoas estão preferindo ir aos supermercados e, com isso, as vendas têm caído bastante. Apesar disso, temos boas expectativas para um volume maior de encomendas com a ajuda do site”, ressalta.

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